Método do Custo de Viagem

O método do custo de viagem é usado para estimar valores de uso econômicos associados a ecossistemas ou localidades que são utilizados para recreação.

O método pode ser usado para estimar os benefícios ou custos econômicos resultantes de:

  • mudanças nos custos de acesso em um local de lazer
  • eliminação de um local de lazer existente
  • criação de um novo local de lazer
  • alterações na qualidade ambiental de um local de lazer

A premissa básica do método do custo de viagem é que o tempo e as despesas do custo de viagem que as pessoas incorrem para visitar um local representa o "preço" de acesso ao local. Assim, a disposição das pessoas em pagar para visitar o local pode ser estimado com base no número de viagens que eles fazem em relação a variação dos custos de viagem. Isso é análogo a estimar a disposição das pessoas para pagar por um bem comercializado com base na quantidade demandada a preços diferentes.

Situação hipotética:

Uma área usada principalmente para a pesca recreativa está ameaçada pelo desenvolvimento na área circundante. Poluição e outros impactos desse desenvolvimento podem destruir o habitat dos peixes no local, resultando em um sério declínio, ou perda total, da capacidade da área para fornecer serviços de pesca recreativa. Os órgãos ambientais desejam estimar o valor dos programas ou ações para proteger o habitat dos peixes.

Por que usar o método do custo de viagem?

O método do custo de viagem foi selecionado neste caso por duas razões principais:

1. A área é importante para as pessoas como um local de lazer. Não existem espécies ameaçadas de extinção ou endêmicas que afetariam os valores de não-uso para o local de maneira significativa.

2. Os gastos com projetos para proteger o local são relativamente baixos. Assim, usando um método relativamente barato por sua fácil aplicação, como custo de viagem faz mais sentido.

Abordagens alternativas:

O Método da Valoração Contingente (MVC) poderia também ser utilizado neste caso. Embora possam produzir estimativas mais precisas de valores para as características específicas do local e também capturar os valores de não-uso, seria consideravelmente mais complicado e caro sua aplicação.

Opções de aplicação do Método do Custo de Viagem:

Existem várias maneiras de abordar o problema, usando variações do Método do Custo de Viagem.

Estes incluem:

  • Uma abordagem simpes dos custos das viagens, usando principalmente dados secundários, com alguns dados coletados dos visitantes.
  • Uma abordagem dos custos das viagens individuais, usando um levantamento mais detalhado dos visitantes.
  • Uma abordagem de utilidade aleatória usando pesquisa e outros dados, além de técnicas estatísticas.

Aplicação da abordagem do Custo de Viagem:

O Método do Custo de Viagem é a abordagem mais simples e por isso mais barata de ser aplicada. Através dele podemos estimar um valor para os serviços de lazer da área como um todo. Este método não traduz facilmente o valor da área para uma mudança na qualidade do lazer no local, e pode não considerar alguns dos fatores que podem ser importantes determinantes de valor.

O Método do Custo de Viagem é aplicado através da obenção de informações sobre o número de visitas ao local oriundas de diferentes localidades e com isso provenientes de diferentes distâncias. O custo de viagem e o tempo aumentam com a distância, esta informação permite ao pesquisador calcular o número de visitas "comprados" em diferentes "preços." Esta informação é usada para construir a função de demanda para o local, e estimar o excedente do consumidor, ou benefícios econômicos, para os serviços de lazer do local.

Etapa 1:

A primeira etapa é o de definir um conjunto de zonas circundantes ao local. Estes podem ser definidos por círculos concêntricos em torno do local, ou por divisões geográficas com algum critério como, por exemplo, as áreas metropolitanas ou municípios que cercam o local em diferentes distâncias.

Etapa 2:

A segunda etapa é coletar informações sobre o número de visitantes de cada local, bem como o número de visitas feitas no período passado. Para este exemplo, suponha que o pessoal no local mantém registros do número de visitantes e seu código postal, que pode ser usado para calcular o total de visitas por local ao longo do último ano.

Etapa 3:

A terceira etapa é calcular as taxas de visitação por 1000 habitantes em cada local. Isto é simplesmente o total de visitas por ano a partir do local, dividido pela população do local em milhares. Um exemplo é mostrado na tabela:

Etapa 4:

A quarta etapa é calcular a distância média de viagem de ida e volta e o tempo de viagem entre o local estudado e o local de origem do visitante de acordo com os círculos concêntricos previamente definidos. Assuma que as pessoas do local 0 não tem distância e o tempo de viagem é nulo. Cada outro local terá um aumento do tempo de viagem e de distância. Em seguida, utilizando o custo médio de hora/km e tempo de viagem, o pesquisador pode calcular o custo de viagem de cada localidade. Um custo padrão por quilômetro para conduzir um automóvel está prontamente disponível a partir de fontes. Suponha que este custo por quilômetro é R$ 0,30. O custo do tempo é mais complicado, a abordagem mais simples é usar o salário médio por hora. Suponha que ele é de R$ 9/hora, ou R$ 0,15/minuto, para todas as localidades, embora, na prática, é provável que estes custos sejam diferentes por localidade. Os cálculos são mostrados na tabela:

Etapa 5:

A quinta etapa é calcular, utilizando análise de regressão, a equação que relaciona visitas per capita a custos de viagem e outras variáveis importantes. A partir disso, o pesquisador pode estimar a função de demanda para o visitante. Neste modelo simples, a análise pode incluir variáveis demográficas, tais como idade, renda, sexo e níveis de ensino, utilizando-se os valores médios para cada localidade. Para manter o modelo mais simples possível, o cálculo da equação com apenas o custo de viagem e visitas/1000 habitantes.

Visitas/1000hab. = 330-7,755 * C.

C = Custo de viagem

Etapa 6:

A sexta etapa é a elaboração da função demanda por visitas ao local, utilizando os resultados da análise de regressão. O primeiro ponto da curva de demanda é o total de visitantes do local de acordo com os custos atuais de acesso (assumindo que não há taxa de ingresso para a localidade), que neste exemplo é de 1600 visitas por ano. Os outros pontos são encontrados estimando o número de visitantes, com diferentes taxas de entrada hipotéticas (assumindo que uma taxa de entrada é visto da mesma forma como os custos de viagem).

Para efeitos do nosso exemplo, começamos assumindo uma taxa de entrada R$ 10 em nossa curva de demanda, sendo assim o custo de viagem fica acrescido em R$10.

 

O número de visitantes 954 dado uma taxa de ingresso de R$10 nos dá um segundo ponto na curva de demanda. Os demais pontos são dados a seguir:

Passo 7:

O passo final estimar o benefício económico total do local para os visitantes, calculando o excedente do consumidor, ou seja, a área sob a curva de demanda. Isso resulta em uma estimativa total de benefícios econômicos a partir de usos recreativos do local de cerca de R$ 23.000 por ano, ou cerca de R$14,38 por visita (R$ 23 mil / 1600).

Como podemos usar os resultados?

Lembre-se que o objetivo do órgão ambiental foi para decidir se vale a pena gastar dinheiro em programas e ações para proteger o local de pesca recreativa. Se as ações custarem menos de R$ 23.000 por ano, o custo será menor do que os benefícios oferecidos pelo local. Se os custos forem maiores, o órgão ambiental terá que decidir se existem outros fatores que podem valer a pena manter o local para pesca recrativa ou se outra atividade no local trará maior benefício social.

Aplicação da abordagem de custo de viagem individual:

A abordagem do custo de viagem individual é semelhante à abordagem por localidade, mas usa dados de pesquisa de visitantes individuais na análise estatística, ao invés de dados de cada local de origem dos visitantes. Este método requer, portanto, mais a coleta de dados e uma análise um pouco mais complicado, entretanto os resultados serão mais precisos.

Para o exemplo hipotético do local pesca recreativa, ao invés de simplesmente coletar informações sobre o número de visitantes e seus códigos postais, o pesquisador realiza um levantamento dos visitantes. A pesquisa pode pedir as seguintes informações:

  • localização da casa do visitante - o quão longe eles viajaram para o local
  • quantas vezes eles visitaram o local durante o ano
  • a distância da viagem
  • a quantidade de tempo gasto no local
  • despesas de viagem
  • renda da pessoa ou outras informações sobre o valor do seu tempo
  • outras características socioeconômicas do visitante
  • outros locais visitados durante a mesma viagem, e o tempo gasto em cada visita
  • outras razões para a viagem (é a viagem apenas para visitar o local, ou para diversas finalidades)
  • sucesso de pesca no local (quantos peixes capturados em cada viagem)
  • percepções da qualidade do meio ambiente ou a qualidade da pesca no local

Utilizando os dados da pesquisa, o pesquisador pode prosseguir de forma semelhante ao modelo de localidade, por cálculo, utilizando a análise de regressão, a relação entre o número de deslocamentos e as despesas de viagem e outras variáveis relevantes. Desta vez, o pesquisador usaria dados individuais, ao invés de dados de cada local de origem. A equação de regressão nos dá a função de demanda para o visitante "médio" para o local, e a área abaixo dessa curva de demanda dá o excedente do consumidor médio. Este é multiplicado pelo total de população relevante (a população da região de origem dos visitantes) para estimar o excedente do consumo total para o local.

Porque foram coletados dados adicionais sobre os visitantes, locais alternativos, e qualidade do local, as estimativas de valor pode ser melhor ajustadas, adicionando esses outros fatores para o modelo estatístico. Incluindo informações sobre a qualidade do local permite ao pesquisador estimar a mudança no valor do local, no caso de mudanças na qualidade. Para fazer isso, duas curvas de demanda diferentes seriam estimadas, uma para cada nível de qualidade. A área entre as duas curvas é a estimativa da mudança no excedente do consumidor quando dado as mudanças na qualidade.

Aplicação da abordagem de utilidade aleatória:

A abordagem de utilidade aleatória é a mais complicada e cara das abordagens de custos de viagens. É também o "estado da arte" das abordagem, pois permite muito mais flexibilidade no cálculo dos benefícios. É a melhor abordagem a ser usada para estimar os benefícios para características específicas, ao invés de adotar a localidade recreacional como um todo. Também é a abordagem mais apropriada quando existem muitas áreas recreacionais substitutas.

No exemplo, a agência pode querer valorizar as perdas econômicas da diminuição das populações de peixes, em vez da perda de todo o estoque de peixes. A abordagem de utilidade aleatória seria a melhor maneira de fazer isso, porque se concentra em escolhas entre os locais alternativos, que têm características diferentes de qualidade.

A abordagem de utilidade aleatória assume que as pessoas vão escolher o local que eles preferem, de todos os locais de pesca possíveis. Indivíduos fazem compensações entre a qualidade do local e o preço das viagens para cada local. Assim, este modelo requer informações sobre todos os possíveis locais que o visitante pode selecionar, as suas características de qualidade e os custos de viagens para cada um.

Para o exemplo, o pesquisador pode realizar uma pesquisa por telefone com moradores selecionados aleatoriamente do estado. A pesquisa seria perguntar-lhes se eles vão pescar ou não. Se eles fizerem isso, seria então fazer uma série de perguntas sobre quantas viagens de pesca que fez no ano passado (ou época), para onde eles foram, a distância para cada local, e outras informações semelhantes às informações coletadas em nossa pesquisa com a abordagem do custo de viagem individual. A pesquisa também pode fazer perguntas sobre as espécies de peixes de interesse em cada viagem, e quantos peixes foram capturados.

Usando essas informações, o pesquisador pode estimar um modelo estatístico que pode prever tanto a escolha de ir pescar ou não, e os fatores que determinam qual o local está selecionado. Se as características do local referentes a qualidade estão incluídos, o modelo pode facilmente estimar valores para alterações na qualidade do local, por exemplo, as perdas econômicas causadas por uma diminuição nas taxas de captura no local.

Economia de Água em Condomínios

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